A entorse é um movimento violento, com estiramento ou ruptura de ligamentos de uma articulação. A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas mais freqüentemente encontradas na população ativa, que geral- mente envolve lesão dos ligamentos laterais. Ocorre com maior frequência nos atletas de futebol, basquete e vôlei, correspondendo a cerca de 10% a 15% de todas as lesões do esporte1(D). No Reino Unido, ela acontece em uma a cada 10.000 pessoas da população geral, isto é, cerca de 5.000 lesões por dia2(D). A entorse do tornozelo pode evoluir com complicações, com vários graus de limitação funcional.
A classificação de entorse de tornozelo é baseada no exame clínico da área afetada e divide a lesão em três tipos: grau 1- estiramento ligamentar; grau 2-lesão ligamentar parcial e grau 3-lesão ligamentar total4(C).
O quadro clínico encontrado é de dor, com edema localiza- do na face ântero-lateral do tornozelo, equimose mais evidente após 48 horas e dificuldade para deambular. Quanto mais grave a lesão, mais evidentes ficam os sinais. A associação destes sin- tomas com o teste da gaveta anterior positivo permite caracteri- zar uma lesão grau 3 em 96% dos casos5(D).
A necessidade de exames complementares para entorse de tornozelo baseia-se na suspeita de fraturas associadas. Das radiografias realiza- das em doentes com lesão de tornozelo, 85% são normais6(B). Com intuito de evitar radio- grafias desnecessárias, foram criadas regras (re- gras de Ottawa para tornozelo) que indicam a realização de radiografias apenas quando hou- ver dor em pontos ósseos específicos ou na im- possibilidade do apoio de marcha (pelo menos quatro passos). Esta regra mostrou sensibilida- de de 99,7%, porém com especificidade variá- vel (10% a 70%)7(A).
A ressonância magnética pode ser indicada nos casos de persistência da dor após três meses da lesão inicial, com o objetivo de investigar le- sões associadas, como osteocondral, do impac- to ântero-lateral e identificar lesões ligamentares crônicas8(B).
QUAIS SÃO AS OPÇÕES DE TRATAMENTO DA ENTORSE DE TORNOZELO NA FASE AGUDA?
O objetivo do tratamento da lesão ligamentar do tornozelo é o retorno às atividades diárias (esporte/trabalho), com remissão da dor, inchaço e inexistência de instabilidade articular.
O tratamento inicial para todas as lesões consiste em repouso por três dias, aplicação local de gelo, elevação do membro afetado e proteção articular com imobilizador ou tala gessada. O uso de antiinflamatórios não hormonais mostrou diminuição da dor e edema, com melhora precoce da função articular9(A).
Nas lesões leves, o tratamento é sintomáti- co, com manutenção da imobilização até a me- lhora dos sintomas, que dura entre uma e duas semanas. Já nas lesões completas, a proteção ar- ticular com imobilizadores semi-rígidos possibi- litou retorno mais rápido às atividades físicas e laborativas quando comparada à imobilização gessada, porém a ocorrência de edema, dor e ins- tabilidade em longo prazo foi semelhante nos dois grupos3(A). Outros tipos de imobilização funci- onal, como enfaixamento e imobilizadores elás- ticos, tiveram resultados inferiores aos imobilizadores rígidos e semi-rígidos.
O tratamento cirúrgico comparado ao trata- mento conservador não mostrou superioridade no retorno precoce à atividade física, apenas pa- rece evoluir com menor instabilidade residual. O tratamento deve ser feito de forma individualiza- da, avaliando-se cuidadosamente os riscos, que são maiores no tratamento cirúrgico. Portanto, a preferência é dada ao tratamento conservador para as lesões agudas, com atenção a pacientes que possam permanecer sintomáticos3(A).
Alguns pacientes permanecem com dor ou instabilidade após seis meses do tratamento da lesão ligamentar aguda. As possíveis lesões as- sociadas geralmente são por ordem decrescente de freqüência: instabilidade crônica, lesão osteocondral, impacto com processo inflama- tório tíbio-fibular distal e impacto anterior com exostose. A investigação diagnóstica destes pa- cientes pode ser realizada pelo exame clínico associado a métodos diagnósticos, como as ra- diografias simples e com estresse, ressonância magnética e artroscopia, sendo este último o de maior sensibilidade e especificidade10(A).
Cerca de 20% das entorses de tornozelo podem evoluir com algum tipo de instabilida- de após seis meses da lesão inicial, acompa- nhada ou não de frouxidão ligamentar. Os pa- cientes com boa contensão mecânica – cha- mada instabilidade funcional – têm como causa a falha na propriocepção, e são tratados com métodos fisioterápicos. Mesmo aqueles paci- entes com frouxidão ligamentar possuem al- gum déficit de propriocepção, portanto tam- bém devem inicialmente ser submetidos à rea- bilitação. Os pacientes com instabilidade sin- tomática persistente podem ser submetidos à correção cirúrgica. Não existe evidência na li- teratura para determinar qual técnica de trata-
mento cirúrgico leva a melhores resultados, porém é demonstrado que pacientes submeti- dos à recuperação funcional com imobilizadores semi-rígidos no pós-operatório tiveram retor- no mais precoce às atividades diárias, quando comparados àqueles que utilizaram imobiliza- ção gessada13(A).