terça-feira, 15 de abril de 2014

Cortisol X Stress X Obesidade

A primeira evidência experimental do estresse foi conduzida na Universidade McGill, no Canadá, por Hans Selye, um endocrinologista, nascido na antiga Áustria- Hungria. Procurando novos hormônios na placenta, injetou um extrato da mesma, por via intraperitoneal em ratos, verificando uma série de alterações. Estas, no entanto, não puderam ser atribuídas aos efeitos desse extrato, uma vez que os animais controles, injetados com placebo, tiveram as mesmas alterações. Selye sugeriu a hipótese de que a manipulação e/ou a injeção pudesse ser responsável pelas alterações encontradas. Para testar essa hipótese expôs os animais a uma série de estímulos diversos, que incluíam: frio, injuria tecidual, excesso de exercícios e intoxicações, observando os mesmos achados, independente do estímulo utilizado. Concluiu que se tratava de uma “reação geral de alarme” a situações críticas e que representava um esforço do organismo para adaptar-se à nova condição passando a chamá-la então de “síndrome de adaptação geral”. Esta síndrome caracterizava-se por: hipertrofia das glândulas adrenais, úlceras gástricas e uma diminuição no tamanho do timo, baço e gânglios linfáticos.
Esses resultados foram publicados em 1936 na revista Nature1. Na carta inicial ao editor da revista, Selye usou o termo “stress”, mas foi solicitado a substituir, na publicação, esse termo por “reação de alarme”. O termo “stress” já era usado pela física desde 1658, referindo-se à força que produz uma deformação num material. Este termo acabou sendo consagrado e se manteve, basicamente, o mesmo nas mais diversas línguas, pela ausência de uma tradução adequada.

O estresse pode ser definido como um estado antecipado ou real de ameaça ao equilíbrio do organismo e a reação do mesmo, que visa restabelecer o equilíbrio através de um complexo conjunto de respostas fisiológicas e comportamentais. A manutenção deste estado de equilíbrio, homeostase, é essencial para a vida e é constantemente desafiado por forças internas ou externas. Esses desafios ativam os sistemas sensoriais, através de estímulos interoceptivos, como os produzidos, por exemplo, por mudanças no volume ou osmolaridade do sangue, ou por estímulos exteroceptivos, tais como o cheiro de um predador, desencadeando uma cadeia de respostas que objetivam minimizar os danos para o organismo.

Metabolismo
A liberação de glicocorticóides, pelo estresse, tem ações bem conhecidas sobre o metabolismo de carboidratos. Os efeitos dos glicocorticóides são opostos aos da insulina, produzindo o que é conhecido como resistência à insulina, através de dois mecanismos: a) diminuindo a supressão que a insulina provoca na produção hepática de glicose (favorecendo a gliconeogênese); b) prejudicando a entrada de glicose para o interior das células, que é mediada pela insulina. Além disso, os glicocorticóides atuam diretamente nas células β do pâncreas inibindo a secreção de insulina12. A ativação do SNA atua no mesmo sentido através da inibição parassimpática, que resulta numa diminuição de secreção de insulina pelas células β do pâncreas. Agudamente essas respostas ao estresse têm um sentido adaptativo no sentido de aumentar a disponibilidade de glicose circulante. A persistência, por longo prazo, de níveis elevados de estresse pode contribuir para desencadear a diabetes, pelos mecanismos revistos acima em interação com os múltiplos fatores envolvidos nesta doença.
Os efeitos do estresse sobre o metabolismo de lipídeos e mais complexo. A estimulação do SNA, durante o estresse agudo produz uma lipólise com a transformação dos triglicerídeos em ácidos graxos livres e glicerol. Os glicocorticóides interferem no balanço entre ácidos graxos e triglicerídeos, tanto no sentido da lipólise quanto na reesterificação (formação de triglicérides a partir de ácidos graxos). O sentido dessa interferência parece depender do predomínio de catecolaminas ou de insulina. Assim, durante o estresse agudo, a liberação de glicocorticóides com o estímulo adicional de catecolaminas elevadas, favorece a lipólise

Os ácidos graxos livres são uma fonte importante para a geração de energia, necessária nas respostas de luta ou fuga. Na recuperação da resposta aguda ao estresse, os níveis elevados de glicocorticóides mantêm-se por mais tempo que os de catecolaminas e, dessa forma, acabam favorecendo a reesterificação com o armazenamento de triglicérides. Adicionalmente, o efeito agudo do CRH inibindo o apetite é sobrepujado pelo dos glicocorticóides, que estimulam o apetite, possibilitando assim um suprimento maior de triglicérides pela alimentação. Esses mecanismos podem ser interpretados como uma forma de recompor as reservas de energia. Assim, novamente as alterações geradas pelo estresse agudo mostram seu papel adaptativo.

Com o estresse crônico, no entanto, o excesso continuado de glicocorticóides pode levar a um acúmulo no depósito de gordura, que ocorre de forma diferenciada dependendo do tecido adiposo. Durante a recuperação do estresse o acúmulo de gordura ocorre predominantemente no tecido adiposo visceral do abdômen, que possui mais células por unidade de massa, maior irrigação e maior expressão de receptores glicocorticóides, gerando uma distribuição de gordura centrípeta. Por sua vez a maior obesidade visceral representa um fator de risco para a aterosclerose, já que o tecido adiposo intra-abdominal é uma fonte importante da citocina pró- inflamatória interleucina 6, que participa desse processo. No mesmo sentido a cortisolemia crônica contribui para a elevação dos níveis de LDL colesterol.

Esse conjunto de alterações relacionadas constitui a chamada Síndrome Metabólica, que se caracteriza por:
- obesidade abdominal;

- hiperglicemia;
- dislipidemia (níveis elevados de triglicérides, níveis elevados de LDL colesterol e baixos de HDL colesterol); - hipertensão arterial.

Alguns estudos demonstram que a Síndrome Metabólica está relacionada com um risco aumentado para doenças cardiovasculares e acidentes vasculares cerebrais. Uma amostra de mais de 5.000 homens, com 40 a 59 anos, sem história de doença cardiovascular, acidente vascular cerebral ou diabetes, foi acompanhada por 20 anos, observando-se que os que apresentaram Síndrome Metabólica tiveram um risco relativo para doença coronária, acidente vascular cerebral e diabetes maior do que os que não apresentaram.

Logo, conclui-se que uma pessoa “estressada”, com Stress Crônico e não Stress Agudo, apresenta uma tendência a obesidade. O “tratamento” do Stress Crônico é primordial para se evitar a obesidade visceral ou par



a minimizar a sua piora. O Hipotálamo é a área do “cérebro” responsável pela Reação de Stress. O tratamento com “fórmulas” medicamentosas muito eficazes que provocam a perda de peso de forma drástica, facilita a volta do peso com uma velocidade ainda maior do que a normal, além de lesar os nossos tecidos nobres que são compostos pelas proteínas. Essas “fórmulas” são usadas mais em casos de obesidade onde a perda de peso torna-se necessária, para salvar a vida do paciente que apresenta uma obesidade mórbida. Para a Reação de Stress não basta tomar calmantes e outros medicamentos que atuam no cérebro, amenizando parcialmente o problema, se os fatores neuroendocrinológicos não forem abordados de forma muito criteriosa.
Estresse crônico pode levar ao desejo constante de ingerir alimentos, principalmente carboidratos, causando a obesidade. No passado, situações de estresse eram seguidas por ações que requeriam grandes gastos energéticos, como fugir ou lutar. Essas ações já não constituem formas de aliviar o estresse dos dias atuais. O combate ao estresse requer pouca energia do organismo. O corpo acaba acumulando, em forma de gordura, o excesso de alimentos ingeridos em resposta aos hormônios liberados pelo estresse.

O desequilíbrio hormonal, causado por estresse prolongado, pode determinar a região onde a gordura do corpo irá se localizar. O estresse pode também aumentar o nosso apetite. O corpo estressado é como um motor desregulado, que precisa de excesso de combustível para funcionar. Os carboidratos são os alimentos que mais rapidamente se transformam em açúcar no sangue.

Obesos atingidos pelo estresse têm características muito próprias. ''Tendem a estar deprimidos, com sensação freqüente de desamparo, de desesperança; têm fome à noite, principalmente, ou no fim da tarde. O biótipo é de barrigudos com pouca engorda nas pernas e antebraços.'' Normalmente, essas pessoas se deixam engordar por não saber administrar questões emocionais. O que cria um círculo vicioso.

Cortisol x ganho de peso



    O cortisol é um hormônio produzido pelas glândulas adrenais e desempenha funções metabólicas e endócrinas importantes:
  • Manutenção da glicemia em jejum (aumenta a produção de glicogênio no fígado, estimula a lipólise do tecido adiposo e a quebra de proteínas do músculo para a formação de glicose);
  • Aumenta a filtração glomerular (essencial para a excreção rápida da sobrecarga de água);
  • Modulação do sistema imune (limitam as respostas imunes para que elas não ataquem o próprio organismo, importante para que não haja rejeição de órgãos transplantados, efeito benéfico nas reações alérgicas);
  • Mantém a função muscular (contratilidade e performance do trabalho do músculo esquelético e cardíaco);
  • Facilita a maturação do feto (amadurecimento do trato gastrointestinal e dos pulmões).
Porém a produção excessiva de cortisol, que pode estar relacionada aos altos níveis de estresse, quando liberado na circulação, leva a efeitos adversos: aumenta os batimentos cardíacos, a sudorese, os níveis de açúcar no sangue; causa insônia, mudanças de humor (pode elevar ou deprimir o humor); diminui a memória; favorece a obesidade na região abdominal, o surgimento de osteoporose; gera imunodepressão (diminui as defesas do nosso organismo) e acaba com os estoques corporais de proteína.
A obesidade é um dos fatores atuais que está sendo relacionada com a alta concentração deste hormônio, devido a exposição aumentada ao stress nos grandes centros urbanos. Isso acontece porque o cortisol liberado aumenta a produção de glicogênio hepático, inibe a ação da insulina aumentando a glicemia, o que levaria a uma resistência a insulina. Além disso, a elevação na produção de cortisol aumenta a deposição de gordura principalmente na região abdominal. Em obesos há uma super atividade da enzima que transforma a corticosterona em cortisol, um estudo realizado mostrou que após ingestão de uma dieta rica em gordura os indivíduos obesos produziram 2 vezes mais cortisol.

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